A soja fechou o dia em alta na bolsa de Chicago, após a divulgação do relatório mensal de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Nele, o órgão reduziu sua previsão de safra no país, o que foi na contramão da expectativa do mercado.
Os papéis da oleaginosa com vencimento em janeiro, os mais negociados, subiram 1,98% (23,50 centavos de dólar), a US$ 12,120 o bushel. Já a posição seguinte, para março, fechou em alta de 1,92% (23 centavos de dólar), a US$ 12,2375 por bushel.
Ajustes para baixo nas estimativas para as produções nos Estados Unidos e na Argentina levaram o USDA a reduzir de 385,1 milhões para 384 milhões de toneladas sua projeção para a colheita global de soja em grão nesta safra 2021/22, que está sendo colhida no Hemisfério Norte e plantada no Hemisfério Sul.
Para os EUA, o órgão diminuiu a previsão de colheita para 120,4 milhões de toneladas — em outubro, a previsão foi de 121,1 milhões. A expectativa do mercado era de que a projeção subiria para algo em torno de 122 milhões de toneladas.
“Foi isso que fez o mercado subir em Chicago. Nem era para tanto, mas como as cotações já tinham caído demais nos últimos pregões, e como o contrato janeiro chegou a romper brevemente um suporte feito no fim de março deste ano, a produção menor do que se esperava acabou servindo de gatilho para uma correção”, diz Daniele Siqueira, analista da AgRural.
“Esse movimento, atrelado à revisão para baixo dos estoques de passagem no mundo – influenciada também pela perspectiva de uma safra argentina um pouco menor –, acabou impactando positivamente as cotações em Chicago”, acrescentou, em nota, o gerente de consultoria de agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti.
Para a Argentina, o USDA reduziu a previsão para a produção de 51 milhões para 49,5 milhões de toneladas, ante 46,2 milhões em 2020/21 e também para as exportações, de 6,35 milhões para 5,35 milhões de toneladas.
No caso do Brasil, o USDA manteve sua projeção para a colheita em 144 milhões de toneladas, um novo recorde 4,3% superior ao de 2020/21, mas ajustou para cima as exportações.
De acordo com o órgão, o país manterá sua liderança no mercado global do grão com embarques de 94 milhões de toneladas, 1 milhão a mais que o projetado em outubro e volume 15,1% maior que o da temporada passada. “A expectativa de grande safra, o prêmio de exportação mais baixo e o dólar forte jogam a nosso favor”, complementa Daniele Siqueira.
Apesar de a estimativa de produção global ter sido menor do que o esperado, o USDA alterou projeções que poderão pesar sobre as cotações nas próximas sessões. Como as estimativas de exportações americanas em 2021/22 e de importação da China (de 101 milhões para 100 milhões de toneladas).
Ainda segundo o USDA, a demanda mundial deverá alcançar 378 milhões de toneladas, mais que o total sinalizado em outubro (377,3 milhões) e que o da temporada passada (363 milhões), e os estoques finais tendem a somar 103,8 milhões de toneladas, ante as 104,6 milhões projetadas em outubro e as 100,1 milhões de 2020/21.
No Brasil, a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) elevou sua estimativa para as exportações brasileiras de soja em novembro, de 1,9 milhão para 2,6 milhões de toneladas, com base na programação dos portos.
Caso a projeção se confirme, o volume vai superar em quase 240% o total embarcado em novembro do ano passado, quando o país despachou 770 mil toneladas. Se o ano prosseguir sem grandes surpresas, a Anec projeta exportações totais de 84,6 milhões de toneladas, contra 82,3 milhões de toneladas em 2020.
Também influenciado pelo relatório do USDA, o milho encerrou uma sequência de seis quedas seguidas na bolsa de Chicago. O contrato para dezembro, o mais líquido, subiu 0,59% (3,25 centavos de dólar), para US$ 5,5475 o bushel. A segunda posição, março, valorizou 0,58% (3,25 centavos de dólar), a US$ 5,6425 por bushel.
Os números do USDA para o milho ficaram próximos às expectativas do mercado. A previsão é que a produção americana seja de 382,6 milhões de toneladas em 2021/22, pouco acima das 381,5 milhões de toneladas da previsão de outubro. Esse número ficou acima do esperado por analistas ouvidos pelo jornal “The Wall Street Journal”, que era de 382 milhões de toneladas.
A demanda prevista cresceu de 311,9 milhões de toneladas para 313,2 milhões de toneladas. Com isso, as reservas de milho ao fim da safra 2021/22 no país foram reduzidas de 38,1 milhões de toneladas para 37,9 milhões de toneladas. A expectativa do mercado era de um número ainda menor: de 37,6 milhões de toneladas.
“No milho, o USDA fez o que se esperava. Esses estoques mais baixos em dia de aumento de produção deram suporte às cotações do milho, juntamente com a alta do trigo, que acabou ajudando a puxar o mercado do milho”, afirma Daniele Siqueira, da AgRural.
Apesar da sustentação pontual, os reajustes para cima tiram um pouco de pressão sobre o quadro de oferta e demanda global para 2021/22, o que deve pesar sobre os futuros nas próximas sessões.
“O USDA trouxe um aumento da produção esperada no mundo, a reboque da revisão para cima da safra na Argentina e União Europeia. Esse cenário deve influenciar negativamente as cotações”, disse Guilherme Belotti, do Itaú BBA.
Em escala global, o USDA agora projeta uma safra mundial de 1,204 bilhão de toneladas, ante 1,198 bilhão de toneladas em outubro. Os estoques foram ampliados de 301,7 milhões de toneladas para 304,4 milhões de toneladas, enquanto a expectativa do mercado era de uma redução para 301,4 milhões de toneladas. Para o Brasil, a previsão para 2021/22 permaneceu em uma safra de 118 milhões de toneladas, com exportações estimadas em 43 milhões de toneladas – para 2020/21, o órgão fez novo corte, de 20 milhões para 17,5 milhões de toneladas, reflexo das quebras de safra ocorridas nas duas safras no país.
Com informações do Valor Econômico