O Brasil, que assumiu a liderança mundial nas exportações de milho na safra 2022/23, não deverá perdê-la mais, mesmo com as incertezas deste ano. Já o primeiro posto no ranking de algodão, esperado pelo setor brasileiro, não ocorrerá. Pelo menos até 2033.
As exportações brasileiras de soja avançam ano a ano e vão ser superiores a toda a produção americana no começo da próxima década.
É o que projeta o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para o Brasil nos próximos dez anos, com base em estudo anual em que o órgão avalia o comportamento das exportações dos Estados Unidos e de outros produtores mundiais.
Os óleos vegetais, principalmente o de soja, entram com mais força na corrida para uma energia limpa e renovável, com aumento de produção de biodiesel e de diesel renovável.
O milho, já com grande participação nos combustíveis renováveis nos Estados Unidos, não terá grandes variações, mas aumenta no Brasil. No biodiesel, o Brasil precisará olhar para Japão e Índia, que estarão entre as principais demandas externas; no caso do etanol, os olhares devem ser para Indonésia, Malásia e Coreia do Sul.
As novas projeções dos americanos, e que indicam um forte avanço do Brasil no mercado externo, dependem de efeitos climáticos, muito frequentes atualmente, de conflitos geopolíticos, de renda de produtores, de custos, de juros e da evolução da economia mundial.
As projeções para a Ucrânia, por exemplo, estão bastante subavaliadas, uma vez que o futuro na região é incerto, devido à invasão do país pela Rússia. Os ucranianos têm um potencial anual de exportações de milho de 35 milhões de toneladas, mas o Usda o mantém em 19,5 milhões durante a próxima década.
Boa parte do aumento de produtos que serão colocados no mercado externo nos próximos dez anos sairá do Brasil, segundo os americanos. Se confirmadas as expectativas do Usda, o Brasil fornecerá 72% da soja a ser acrescentada no mercado mundial nos próximos anos, 46% do milho, 62% da carne bovina, 61% da de frango e 32% da suína.
Uma das grandes mudanças no cenário de proteínas será a participação da carne suína na balança comercial dos Estados Unidos. Após essa proteína ter superado a bovina nas exportações de 2004, agora é a vez de ficar à frente da de frango, o que ocorrerá em 2031.
Os dois grandes saltos do Brasil serão nas exportações de soja e de milho. As vendas externas da oleaginosa atingirão 133 milhões de toneladas na safra 2033/34, bem acima dos 58 milhões previstos para os americanos.
Daniele Siqueira, da AgRural, diz que a aceleração do Brasil no mercado externo e a estabilidade dos americanos são frutos de opções de mercado.
Os Estados Unidos, após a guerra comercial com a China no governo de Donald Trump, se voltam mais para o mercado interno, uma vez que perderam a preferência do grande importador.
Os americanos buscam agregar valor à soja, principalmente com a produção de diesel renovável. É um caminho que o Brasil também deveria trilhar, segundo a analista.
Com esse olhar voltado mais para dentro, os Estados Unidos buscam um óleo de melhor qualidade na soja e uma diversificação de aplicabilidade para o produto. “Com a demanda interna maior, eles diminuem a atenção que davam para a China”, diz Daniele.
A China, na verdade, é um fator de preocupação, uma vez que o país busca uma dependência menor da soja. A população não cresce no mesmo ritmo anterior, o consumo de carne suína recua e a demanda por carne de frango não atrai muito o consumidor, o que afeta a procura por farelo de soja.
O que mais atrai os consumidores agora, principalmente após uma elevação da renda de boa parte da população chinesa, é a carne bovina, afirma a analista.
Pelos cálculos do Usda, os chineses vão importar 138 milhões de toneladas de soja em 2033/34, ou 38% a mais do que o volume atual. As importações de milho serão de 26 milhões, e as de carne bovina, de 3,9 milhões.
Os americanos mantêm a aposta de que o Brasil passa a ter a liderança mundial nas exportações de milho, somando 77,5 milhões de toneladas em dez anos.
A liderança brasileira neste ano é discutível, mas a analista da AgRural diz que é preciso considerar dois fatores nessa avaliação do Usda.
Primeiro, o órgão ainda estima uma produção nacional de 124 milhões de toneladas para 2023/24. O número da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), após os efeitos climáticos, é de 114 milhões.
Segundo, o Usda considera um calendário comercial diferente, que vai de outubro a setembro. Nesse cálculo, o Brasil já teria exportado 27 milhões de toneladas até janeiro na safra 2023/24, que vai terminar em setembro.
A observação vale também para o algodão, que tem ano comercial de agosto a julho. Sendo que os Estados Unidos tiveram uma safra baixa e fora da curva em 2023/24, e a brasileira ainda não está definida, o Brasil poderá ficar à frente nas exportações.
Cinco países vão dominar as importações de algodão nos próximos anos, adquirindo 80% da fibra colocada no mercado internacional. Bangladesh desbanca a China, que passa a ser a segunda maior importadora, seguida de Vietnã, Turquia e Paquistão.
Assim como nos grãos, o Brasil avança também na participação mundial das exportações de proteínas. Já líderes em carne bovina, os brasileiros vão colocar 3,9 milhões de toneladas no mercado em 2033, um aumento de 39% sobre o volume de 2023.
As exportações de carne de frango sobem para 6,8 milhões de toneladas, 39% a mais, e a suína vai a 2,3 milhões, 55% a mais.
Os grandes importadores de carnes nos próximos anos serão China, México, Japão, Estados Unidos, Coreia do Sul, Indonésia, Malásia e União Europeia.
Os chineses marcam presença na importação dos três tipos de proteínas (bovina, suína e de frango), liderando nas compras de bovina e suína. O México é o principal do ranking de carne de frango.