Em março de 2025, China e EUA reacenderam um velho conflito que voltou a impactar o mercado global da soja: a guerra comercial. De um lado, os EUA impuseram tarifas à importação de produtos chineses, com o intuito de proteger a indústria e a economia do país. Do outro, a China retaliou, taxando as compras de produtos norte-americanos — entre eles, a soja.
Mesmo com a trégua para negociações que está em vigor desde maio, o grão dos EUA paga tarifa de 20% para entrar na China. Essa tarifa torna a soja americana muito cara e, por isso, os chineses estão comprando soja apenas de outras origens, especialmente do Brasil e da Argentina.
Recorde de importação chinesa
Dados oficiais do governo da China mostram que o país importou recordes 108,9 milhões de toneladas de soja na temporada 2024/25, que começou em 1º de outubro de 2024 e terminou em 30 de setembro de 2025. As importações do último trimestre da temporada (julho, agosto e setembro) também bateram recorde, totalizando 36,8 milhões de toneladas, o melhor desempenho trimestral da história.
CHINA | Importação de Soja por Temporada Out-Set
GOVERNO DA CHINA/AGRURAL Em milhões de toneladas, por origem. *Preliminar.
O papel do Brasil
O Brasil tem aproveitado a guerra comercial para aumentar ainda mais suas exportações de soja para a China. Esse aumento, porém, ainda não aparece nos números da temporada chinesa 2024/25, que terminou com importação de 76,1 milhões de toneladas de soja brasileira, ligeiramente abaixo dos 77,3 milhões da temporada 2023/24. Isso aconteceu porque o Brasil embarcou menos soja no segundo semestre de 2024, pois a safra 2023/24 foi menor e a nossa demanda interna estava muito aquecida.
Aumento dos EUA?
Já os desembarques do grão exportado pelos EUA somaram 24,4 milhões de toneladas no ano comercial de 2024/25, acima dos 21 milhões da temporada passada. O aumento deveu-se à estratégia chinesa de cobrir com soja americana o vácuo deixado pelo Brasil não apenas no fim de 2024, mas também no começo de 2025, pois o plantio da nossa safra 2024/25 foi mais tardio e isso acabou atrasando os embarques brasileiros. Além disso, a China já esperava que uma nova guerra comercial acontecesse. Por isso, o país reforçou as compras e os embarques nos EUA antes que as tarifas fossem impostas.
E como será em 2025/26?
Conforme esperado, portanto, o impacto da guerra comercial sobre as exportações dos EUA na temporada 2024/25 foi pequeno. A grande dúvida fica por conta da temporada 2025/26, que já está em curso. Pela primeira vez em 30 anos, a China não aparece na lista de compradores do grão americano.
Segundo estimativa do USDA, os EUA devem exportar 45,9 milhões de toneladas na temporada 2025/26, com queda de 10% em relação ao ano comercial anterior. No entanto, as exportações americanas podem ser ainda menores caso a China e os EUA não cheguem a um acordo comercial.
À espera do encontro entre Trump e Xi
A expectativa é de que um acordo comercial envolvendo a compra de soja dos EUA pela China possa sair na semana que vem, quando os presidentes Trump e Xi se encontrarão pessoalmente. Mas, enquanto o acordo não sai, o Brasil continua batendo recordes de exportação mensal para a China, que terão reflexo nos dados de desembarque nos portos chineses dos próximos meses. Os EUA, por sua vez, buscam espaço em outros mercados para compensar parcialmente a redução das vendas para a China.