As recentes chuvas na região Sul melhoram as perspectivas de produção de grãos, mas a perda já ocorrida, devido à seca, e a queda contínua dos preços trazem desânimo para os produtores.

O Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná refez as contas, e a produção de soja, que tinha potencial para 22 milhões de toneladas, recua para 19 milhões neste ano. Se tivesse persistido o clima seco da primeira quinzena do mês, os estragos teriam sido maiores.

O Rio Grande do Sul já vinha com condições melhores, e as chuvas da segunda quinzena do mês contribuíram para a restauração da umidade dos solos, segundo a Emater/RS.

Além disso, as elevadas temperaturas e a exposição à radiação solar estão proporcionando aceleração do crescimento e do desenvolvimento das plantas.

Para a Emater, há uma considerável melhoria nas condições das lavouras e redução do estresse hídrico em várias áreas.

A região Sul do país é importante no contexto agropecuário nacional, mas vinha com perdas elevadas de produção nos últimos anos, principalmente no Rio Grande do Sul.

Nesta safra, a região volta a uma produção próxima à normalidade, podendo chegar a 92,3 milhões de toneladas de grãos, um volume que representa 30% do total nacional. Em 2023, a participação havia sido de 25%, conforme números do IBGE.

A AgRural, segundo as previsões mais recentes, estima uma produção nacional de soja de 150 milhões de toneladas. Se esse número se concretizar, já haverá uma perda de 9 milhões em relação ao potencial inicial.

A consultoria aponta, no entanto, que a colheita de soja atinge apenas 11% da área destinada à oleaginosa. O volume a ser obtido ainda deverá passar por outras avaliações.

A situação das lavouras melhorou com as chuvas, mas a preocupação agora é com os preços, “que não acham o chão e continuam a cair”, afirma Carlos Hugo Winckler Godinho.

Daniele Siqueira, da AgRural, afirma que um dos fundamentos que poderão influenciar os preços em Chicago é uma eventual quebra no Rio Grande do Sul e na Argentina. As duas regiões têm plantio tardio e, se houver uma redução de produção, será sentida em fevereiro e março.

Para Godinho, analista do Deral, já há uma perda consolidada no Paraná. Ainda há, no entanto, um viés de baixa, e os próximos dados poderão indicar números ainda menores, afirma ele.

As áreas mais afetadas pela adversidade climática do final do ano passado e do início deste são as de Londrina, se estendo até Maringá e até Jacarezinho, todas no norte do estado.

As chuvas no estado não devolvem as margens obtidas pelos produtores nos anos anteriores. Além de uma produção menor, os preços estão bem distantes dos de há um ano.

As chuvas trouxeram, no entanto, um certo ânimo para o plantio da segunda safra no estado, dominada por milho e, em escala menor, por trigo.

A produção de grãos do Paraná da primeira safra está estimada, por ora, em 22,1 milhões de toneladas, 40% acima da de 2021/22, mas 16% inferior à do ano passado, segundo o Deral.

Godinho afirma que as perdas provocadas pelo clima adverso afetam quase todas as culturas paranaenses. As lavouras de fumo vão render 21% menos; as de feijão, 28%, e as de arroz irrigado, 25%.

A cana-de-açúcar, ao contrário dos demais produtos, está com bom desempenho e deve escapar ilesa dos efeitos do clima ruim, segundo o analista.

Quanto ao milho safrinha, ainda é cedo para avaliações, mas a produção está prevista em 14,6 milhões de toneladas, um volume próximo ao obtido no ano anterior.

O produtor ainda avalia as receitas com a soja, antes de optar pelo milho, que está com preços em patamares baixos. Os custos operacionais de produção são elevados, e o cenário que vem pela frente não é bom, afirma Godinho.

Os gaúchos recuperam o ritmo de produção perdido nas safras de 2021 e de 2022 devido ao clima. A produção de soja aumenta 69% neste ano, e a de milho, 49%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O setor agropecuário deverá impulsionar a agroindústria, os serviços de transporte e de armazenagem do estado neste ano. No anterior, as exportações gaúchas de produtos alimentícios e agropecuários somaram US$ 11,3 bilhões, gerando 50% das receitas do estado com o comércio exterior, segundo dados do governo.

Assim como no restante do país, os gaúchos sofrem com os preços dos produtos agrícolas. A soja, carro-chefe do estado, foi negociada a R$ 115 por saca em algumas regiões na semana passada. Há um ano, estava em R$ 169.

A saca de milho recuou para R$ 55 atualmente, 36% a menos do que há um ano, e a de trigo caiu para R$ 62, com redução de 21% no mesmo período.

Feijão e arroz, devido à menor oferta de produto, estão com preços maiores neste ano. A saca de arroz, em patamares recordes, teve alta de 38% em 12 meses, e a de feijão, 12%, segundo dados da Emater/RS.


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