O produtor brasileiro está vivendo uma situação inédita. A cada dia que passa as notícias indicam um cenário complicado para a soja, que terá redução de safra em relação às estimativas iniciais, mas os preços não reagem. Ao contrário, caem.
Em janeiro do ano passado, quando o país se preparava para colher a maior safra da história, que chegou a 160 milhões de toneladas, a saca da oleaginosa estava em R$ 171 no Paraná, conforme valores médios apurados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada) para aquele mês.
Neste ano, quando as perspectivas são de quebra de safra devido ao clima, o valor da saca recua e está em R$ 131 na média dos dez primeiros dias do mês. A produção estimada, por ora, é de 155 milhões de toneladas para a safra 2023/24.
Até mesmo o produtor que conseguir colher soja em 2024, uma vez que a situação mais complicada está no Centro-Oeste, vai ter remuneração menor, se persistirem esses preços.
Daniele Siqueira, analista da AgRural, diz que a queda ocorre porque o Brasil não está sozinho no mercado internacional. Os operadores da Bolsa de Chicago, entidade importante na formação dos preços mundiais, ainda avaliam que a quebra do Brasil não é suficiente para alterar o mercado externo.
“Há um descompasso entre a redução de produção no Brasil e o comportamento do mercado em Chicago. E isso é refletido nos preços internos, que vêm caindo bem desde o início do ano”, avalia Daniele.
O produtor está convivendo com queda na produção, preços menores e redução dos prêmios nos portos, uma vez que o mercado externo ainda não vê o Brasil como uma situação alarmante, afirma a analista.
O Centro-Oeste tem uma perda mais acentuada, mas outras regiões de produção nacional compensam parte dessa queda. Além disso, o cenário deste ano na Argentina é bem diferente do de 2023. Ele ajuda na queda dos preços.
Por ora, as previsões indicam que os argentinos poderão colocar 30 milhões de toneladas a mais de soja no mercado neste ano, em relação ao que produziram em 2023.
As estimativas mais recentes da Bolsa de Rosário apontam para uma safra 2023/24 de 52 milhões de toneladas. A anterior, devido às adversidades climáticas no país, havia ficado em apenas 20 milhões. O potencial final da safra argentina vai ser definido em abril.
Os preços caem também porque os chineses estão bem estocados, e os americanos são os principais fornecedores da oleaginosa até o final deste mês para eles.
No caso do milho, o comportamento do mercado é um pouco diferente. Enquanto o produto cai em Chicago, sobe no Brasil. Atraso na soja e perspectivas de menor produção na safrinha fizeram o produtor reduzir as vendas, dando, aos poucos, margem para uma recuperação de preços.
Em agosto, a saca do cereal tinha valor médio de R$ 53, segundo o Cepea. Neste mês, está em R$ 70. Esse valor, no entanto, ainda fica abaixo dos R$ 86 de janeiro de 2023.
Com os preços da soja caindo, parte dos produtores poderá optar pela venda do cereal e reter a oleaginosa, na avaliação de Daniele.
Além disso, as notícias vindas de fora não são animadoras para os preços. Os argentinos, que produziram apenas 34 milhões de toneladas de milho no ano passado, poderão atingir 55 milhões neste.
Os Estados Unidos, após uma safra recorde de 387 milhões de toneladas, estão com bom estoque, apesar da demanda pelo cereal.
As negociações com soja no mercado disponível recuaram para R$ 116 por saca em Cascavel (PR) nesta quinta-feira (11), segundo acompanhamento da AgRural.
Há um mês, a saca era negociada a R$ 139. Em Sorriso (MT), esteve em R$ 105 nesta quinta-feira, abaixo dos R$ 124 de há um mês.
O milho, com pequena alta, não teve grandes alterações. Os produtores venderam a saca do cereal por R$ 60 nesta semana em Cascavel e a R$ 41 em Sorriso.