A posição dos fundos de investimento, que sempre buscam as melhores opções para ganhar dinheiro, traz ainda mais preocupação para o produtor de soja.

Eles estão com a maior posição de venda da história, o que mostra que, pelo menos a curto prazo, não apostam em uma recuperação de preços. Na semana passada, os contratos de venda somavam 23,4 milhões de toneladas, segundo a AgRural, de Curitiba.

Até novembro de 2023, os fundos vinham com um saldo positivo na posição de compra, referente ao primeiro contrato na Bolsa de Chicago. Desde dezembro, as vendas vêm acelerando, o que inibe recuperação de preços devido à força de mercado que eles têm.

Esse cenário complica ainda mais a situação do produtor brasileiro, que convive com perda de produção, queda de preços e ainda tem boa parte da soja para ser comercializada. Grande parte da produção está sendo negociada na boca da safra.

Fernando Muraro, da AgRural, diz que essa pressão de venda dos fundos ocorre em um momento em que os produtores estão com apenas 36% da soja comercializada antecipadamente, bem abaixo da média histórica, próxima de 50% para esse período.

Muraro diz que apenas um terço de vendas é muito pouco para um país que é o maior produtor e exportador mundial. “Vamos continuar sofrendo pressão nesta boca de safra”, afirma ele.

O percentual de venda é baixo porque nos dois anos anteriores a soja teve um bom preço no período de safra, o que não corre neste, apesar da quebra de produção.

É um ano complicado, com temperaturas altas, pouca chuva e consequente quebra de safra. Muitos produtores não anteciparam vendas até por precaução, uma vez que poderiam não ter soja para cumprir contratos de vendas, devido à quebra de produtividade.

Há 13 anos o Brasil ultrapassou os Estados Unidos em produção, e a comercialização interna de apenas um terço da produção até o início da safra é muito pouca, diz o analista da AgRural.

A pressão sobre os preços aumenta neste período, principalmente porque a América do Sul já produz 100 milhões de toneladas da oleaginosa a mais do que os Estados Unidos.

Para José Cícero Aderaldo, vice-presidente da Cocamar, as vendas futuras do mesmo período do ano passado eram de 2% na área de atuação da cooperativa. Os preços estavam a R$ 170 por saca, mas acabaram caindo para R$ 130 a R$ 140.

Neste ano, as vendas futuras estão em 15%. Os preços da saca, que estavam em R$ 130, recuaram R$ 102, afirma ele.

Em 2022, com a quebra de safra, o produtor não teve lucro, mas conseguiu empatar custos e receitas. No ano seguinte, com safra recorde, ganhou. Neste ano, com quebra de safra e redução de preços, na média, perde.

Zico, como é conhecido o vice-presidente da Cocamar, afirma que as perdas do estado do Paraná ainda não estão todas computadas.

Primeiro, ela é mostrada pelas máquinas do produtor. Em seguida, aparece nos volumes entregues às cooperativas e empresas receptoras. Só depois vão para as estatísticas da Secretaria de Agricultura.

É um ano difícil, diz. Ele acredita que a produção paranaense fique abaixo dos 18 milhões de toneladas previstos atualmente. Ele toma como base a média de produção na área de atuação da Cocamar, que caiu de 58 sacas por hectare, em 2023, para 40, neste ano.

Falar em média, no entanto, é complexo, afirma Zico. A produtividade da região vai de apenas 15 sacas por hectare a 60, dependendo das lavouras. Em algumas áreas, como a do vale do Paranapanema, essa queda chega a 70%.

A Cocamar, assim como as demais empresas do setor, teve um sério desafio para receber o volume recorde de soja no ano passado. Ampliou a capacidade de recepção e, neste ano, esperava receber 2,5 milhões de toneladas, mas o volume deverá ser de apenas 1,7 milhão, devido a seca e consequente quebra de produtividade.

Para Zico, mais do que a quebra no Brasil e a recuperação de produção na Argentina e nos demais países produtores, é a China que interfere nos preços da soja.

Além da situação econômica do país, os chineses sabem que, quanto maior for a ausência deles no mercado, mais favoráveis estarão os preços para eles adiante.

Há dois anos, a tonelada de soja colocada na China era cotada a US$ 750, valor que caiu para US$ 550 no ano passado e está, neste ano, em US$ 450, segundo a AgRural.

Os dados recentes do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), avaliando oferta e demanda, indicam ajustes, mas ainda não espelham a realidade, diz Muraro.

O consumo nos Estados Unidos está abaixo da média histórica, a safra brasileira está acima das previsões atuais, e as importações chinesas subiram para 105 milhões de toneladas, segundo os dados.

Mesmo com a quebra na safra de soja e os preços fracos do milho, Zico diz acreditar que o produtor não vai deixar de plantar o cereal. A preparação da safra de milho já começou em novembro.

Um dos motivos que fazem o produtor desistir do milho é a perda do período ideal de plantio, que vem logo após a colheita da soja. Neste ano, a colheita da oleaginosa foi antecipada e deixou uma “janela” ideal para a semeadura do milho, afirma o vice-presidente da Cocamar.


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