Por Mauro Zafalon
Há duas décadas, a área de milho usada no período de inverno —a chamada safrinha— representava apenas 19% da de verão. Na próxima safra, essa área deverá superar em 120% a de verão.
Desde que Mato Grosso adotou a cultura de milho, a produção nacional disparou e já beira os 100 milhões de toneladas. O problema é que o país não se preparou muito bem para tanta produção.
As exportações ficam limitadas pelo câmbio, que dá ou retira competitividade ao produto. Uma esperança é a produção de etanol, principalmente em Mato Grosso.
Os dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) indicam que a soma do estoque vindo da safra passada e da produção deste ano atinge 106 milhões de toneladas, para um consumo interno de 56 milhões.
Mesmo com os 28 milhões de toneladas que deverão ser exportados, a sobra de milho no fim da safra 2016/17 deverá somar 21,6 milhões, um volume até então não visto pelo setor.
Esse quadro leva boa parte dos produtores do cereal do céu para o inferno. Após um 2016 com preços recordes, os produtores de algumas regiões, como a de Mato Grosso, têm o produto cotado a apenas R$ 11,80 por saca.
Os números da Conab mostram dois detalhes: os estoques de passagem de 2016 para 2017 e o volume a ser exportado nesta safra.
ESCASSEZ
O ano passado foi um período de escassez de milho, devido à quebra de safra, e de preços elevados. Mesmo assim, a Conab aponta um estoque de passagem de 8 milhões de toneladas, ou seja, muitos produtores deixaram de vender e agora encontram um mercado adverso.
Se esse estoque estava nas mãos de empresas, estas pagaram caro em relação aos preços baixos deste ano.
Com relação às exportações, o mercado trabalha com números mais elevados do que os 28 milhões de toneladas da Conab. Daniele Siqueira, da AgRural, acredita que as vendas externas atinjam 33 milhões de toneladas.
Mesmo assim, os estoques de passagem de 2017 para 2018 seriam superiores a 15 milhões de toneladas. Nesse contexto, será difícil haver recuperação consistente dos preços, acredita a analista.