Por Mauro Zafalon
*Colaboração de Daniele Siqueira
Assim como o petróleo, o mercado agrícola também desacelerou nesta segunda-feira (9). O setor vive um momento de histeria e de aversão ao risco, segundo Daniele Siqueira, analista da AgRural.
Segundo ela, o mercado agrícola –principalmente o de soja– teve uma recuperação no fim do ano passado, devido às expectativas de que o acordo entre China e EUA movimentasse mais o setor.
Perdeu força, no entanto, com o coronavírus no início do ano e sofre agora o impacto da queda do petróleo, que serve de norte para as commodities.
Com esse desarranjo mundial dos produtos agrícolas, perdem os americanos e ganham os brasileiros. Pelo menos com alguns produtos.
Os brasileiros aceleram as vendas e, devido à competitividade do produto nacional no mercado externo, trazida pelo câmbio, vão elevar as receitas obtidas em reais.
A soja registrou, nesta segunda-feira (9), os menores preços desde maio de 2019 em Chicago. Já no porto de Paranaguá, atingiu os maiores valores desde outubro de 2018.
Graças aos meses de chuva é possível plantar e colher soja duas vezes ao ano
Naquela data, o Brasil era bastante beneficiado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China. O país asiático comprou toda soja que encontrou no mercado brasileiro.
O grande impulso dos preços da commodity no Brasil em 2018 era o prêmio que a China pagava para a oleaginosa brasileira, em relação aos valores de Chicago.
Neste ano, os prêmios estão comportados, mas a escalada do dólar, em relação ao real, dá maior competitividade ao setor.
A soja é elucidativa. Mesmo após a assinatura do acordo da fase 1, os chineses se mantêm fora do mercado americano, diz Siqueira.
Nesta safra 2019/20, que teve início em setembro e terminará em 31 de agosto, as compras chinesas da oleaginosa nos EUA acumulam 12,2 milhões de toneladas, acima dos 9,4 milhões da safra anterior –período da guerra comercial–, mas bem inferior aos 25,5 milhões de toneladas da média de cinco anos.
Favorecido pelo câmbio, o ganho dos produtores de milho é ainda maior no Brasil, uma vez que a negociação é em reais. Parte dos produtores de soja se financia em dólar.
Há um ano, a saca de milho para entrega em julho e agosto, período da colheita da safrinha, era negociada a R$ 33 em Cascavel (PR). Neste ano, está em R$ 37,50. Em Sorriso (MT), os valores subiram de R$ 17,50 para R$ 29,50.
Os produtos brasileiros exportáveis estão sob o guarda-chuva do câmbio, mas em alguns casos nem a desvalorização do real salva as receitas.
O algodão é um deles. O produto será muito afetado pela queda do petróleo, um concorrente no setor de fibras.
O setor sucroalcooleiro é outro. Um repasse dos preços baixos do petróleo para a gasolina, desde que esse cenário externo tenha uma duração de meses, afetará os preços internos do etanol.
Uma saída para as usinas é a produção de etanol anidro, que é limitada. Outra é a produção de mais açúcar, mas os preços do produto não são favoráveis no mercado externo.
Folha de SP